sábado, 17 de agosto de 2013

CRÔNICA LONDRINA DOS ANOS 50


 

Charretes de aluguel na Alameda Manoel Ribas defronte ao antigo Paço Municipal Década de 1950. Foto de José Juliani.

O texto que segue foi extraído do blog: Londrina Documenta 2. São histórias sobre os tempos das charretes.
“Uma alameda com 32 táxis, ou melhor, charretes. Um bosque, quecercado de mata por todos os  lados, tinha pouca importância ambiental. Uma igreja, que era ponto de encontro de toda a cidade. Um cinema, considerado um dos mais modernos do país. Nelson Zaninelli, 76 anos; Idelfonso Delarosa, 76 anos; Alcides de Melo, 89 anos; Damião José da Silva, 94 anos. Esses pioneiros continuam o passeio, proposto pelo Contexto, pelo Centro Histórico. Daniel Thomas, quarta série noturno.
alameda Manoel Ribas fica em frente à Catedral Metropolitana de Londrina, entre as ruas Souza Naves, Minas Gerais e a Rio de Janeiro. Quem passa por lá hoje vê também um ponto de táxi que acompanha todo o canteiro da alameda e, provavelmente, alguns táxis esperando por uma corrida, talvez dois ou três.  Imagine então que este ponto de táxi existe há muito tempo, só que em vez de carros, as corridas eram feitas com charretes que ficavam estacionadas no ponto. Para ser exato, 32 charretes. Quem lembra isso é Nelson Zaninelli, 76 anos, que trabalha como taxista há 58. De 1948 a 1951 ele fez suas corridas com charretes. "Naquele tempo tinha trabalho pra todo mundo, sobrava corrida", afirmou o Zaninelli. Ele e outros pioneiros continuam o passeio pelo Centro Histórico, proposto pelo ComTexto, na edição 76 [Centro Histórico é contado por pioneiros].  As charretes eram o meio de transporte mais acessível à população, por ser mais barato e por transitar mais facilmente pelas ruas e bairros, onde ainda não havia pavimentação. "Em dias de chuva somente nós, charreteiros, que íamos até as vilas. Os carros também iam, mas cobravam preço dobrado e nós mais barato", lembrou Zaninelli.  Durante os anos de 1950, as charretes dos pontos do centro foram substituídas pelos carrinhos ingleses, os biribas. "Eu fiquei com o biriba de 1951 a 1959, quando veio o DKV", disse Zaninelli. Outro taxista de Londrina que atua na área há 56 anos é Idelfonso Delarosa, 76 anos. Ele disse que não chegou a trabalhar com charrete, mas dirigiu um biriba. "Quando eu comecei a dirigir o biriba, as últimas charretes ainda estavam saindo de linha",afirmou Delarosa.   Num passeio pelo Centro Histórico de Londrina, muitas lembranças saltam aos taxistas e outros pioneiros. Próximo à Alameda Manoel Ribas fica o bosque, última reserva de mata nativa no centro da cidade. Nas primeiras décadas de Londrina a cidade era cercada de mata fechada e, portanto, o bosque não tinha tanta importância como tem hoje. "O bosque foi sempre mato. Era uma reserva, mas não tinha utilidade nenhuma", disse Alcides de Melo, 89 anos. Na parte mais alta do Bosque tinha uma figueira branca, que era usada, pelos agenciadores da Companhia de Terras Norte do Paraná (CNTP), para provar a fertilidade das terras disponíveis para a venda. A figueira está presente nas fotos que mostram a primeira missa campal celebrada em Londrina. "A primeira missa foi celebrada no bosque, embaixo de uma figueira, e eu tenho uma fotografia. A apareço na foto porque eu tocava na banda", disse Alcides Melo. "Daqui da Alameda Manoel Ribas era possível ver a ponta da figueira, por cima do fórum, a atual Biblioteca Municipal."  Continuando o passeio pelo centro, próximo à figueira, fora do bosque, está a Catedral, famoso cartão postal de Londrina, que também passou por várias fases até chegar ao que é hoje. O terreno da catedral já estava reservado para ela antes da sua construção, e foi doado pelo diretor regente da CTNP, Arthur Thomas. "Primeiro foi construída uma igreja de madeira, cuja réplica, que fica no campus da UEL [Universidade Estadual de Londrina] é perfeita", afirmou Alcides.  "Na Sexta-feira Santa nós vínhamos do sítio, 25 pessoas a pé. Saíamos daqui depois da procissão e chegávamos em casa de madrugada", lembrou o taxista Delarosa. Depois, a igreja foi construída em alvenaria e tijolos no estilo neogótico. O badalar dos sinos convocavam os fiéis para as cerimônias religiosas.  "Nós tínhamos orientação para ir à igreja e para a missa. Eu fui coroinha e cantava no coral", revelou Damião José da Silva, 94 anos, que chegou a Londrina em 1934 e trabalhava no balizamento abrindo ruas e estradas. Em 1972, durante uma missa solene foi inaugurada a Catedral Metropolitana de Londrina, que existe até hoje.  Outro ponto do Centro Histórico que merece ser relembrado é o Cine Ouro Verde, que depois de adquirido pela UEL em 1978, passou a se chamar Cine Teatro Universitário Ouro Verde, e muito utilizado para diversas promoções culturais.  O Cine Ouro verde foi o sexto cinema de Londrina e considerado na época o terceiro mais luxuoso da América Latina. O primeiro da cidade a ter ar condicionado, recurso muito moderno na época. Suas poltronas eram recuáveis, isto é, com um movimento das pernas ou das costas ela recuava. "Quando tinha filme de aviação, a pessoa que estava sentada na sua frente ficava com medo e deitava para trás pensando que o avião ia pegar nele", disse Delarosa.  Os assentos eram de couro, o chão era forrado com tapete, a tela de vidro semi-panorâmico e a iluminação também imponente. O cinema foi construído obedecendo ao projeto arquitetônico moderno de João Batista Vilanova Artigas e foi inaugurado em 24 de dezembro de 1952, com o filme "Meu Coração Canta". O Cine Ouro Verde foi um dos principais locais de lazer para a população londrinense. "Eu ia bastante no Cine Ouro Verde, porque eu trabalhava até as 3 ou 4 horas e depois ia assistir filme", disse Zaninelli.” Coalboração Benvino Viana Flores Neto

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