terça-feira, 24 de dezembro de 2013

JAPONESES NO NORTE DO PARANÁ

II ENCONTRO CIDADES NOVAS - A CONSTRUÇÃO DE POLÍTICAS PATRIMONIAIS:  – UniFil. Londrina-PR. 13 a 16 de Outubro de 2009.  VESTÍGIOS DA IMIGRAÇÃO JAPONESA NO NORTE DO PARANÁ E SUA  CULTURA ASSOCIADA À TÉCNICA CONSTRUTIVA EM MADEIRA 

Nicolly Matinaga1

Elisa Roberta Zanon2


O norte do Estado do Paraná é uma das regiões de maior  concentração de população advinda da imigração japonesa. As primeiras  ocupações de colônias desta cultura oriental no norte do estado foram fixadas  entre 1913 e 1915, inicialmente em Cambará pela facilidade de acesso e por se  tratar de uma área com grande valorização, visada também por imigrantes de  outras nacionalidades, além de brasileiros de várias regiões do país. É fato que  neste período houve uma grande difusão cultural pela diversidade de povos,  estando inclusive a dos japoneses que trouxeram seus costumes e técnicas  construtivas, principalmente em madeira.  O objetivo deste artigo é apresentar um registro da técnica  construtiva de um exemplar em madeira no estilo japonês, que pode ser  considerada uma herança histórica dos mestres carpinteiros do período da  colonização do Norte do Paraná. Para isto, buscou-se num primeiro momento abordar a imigração japonesa, para então relatar quais foram as técnicas  construtivas utilizadas por eles aqui e por fim expor o exemplar remanescente na  área rural do município de Sertaneja.  O processo de organização dos japoneses no Norte do Paraná  acontecia normalmente em áreas rurais, onde desbravavam estes locais para  produção agrícola. Na aquisição de terras, procedia-se a compra de uma área de  fazenda para dividi-la em pequenos lotes (10 a 20 alqueires), formando as  comunidades, chamadas também de “mura”.  As primeiras construções eram pequenas e feitas em palmito,  cobertas com tabuinhas. Com o passar dos anos, a matéria prima foi substituída   pela madeira, sendo o material mais utilizado nas edificações e sua técnica  construtiva é o melhor remanescente das belas construções dos mestres carpinteiros. Estes construtores trouxeram junto aos costumes o seu modo de construir, que se trata principalmente do “saber fazer”, juntamente com materiais e ferramentas específicas, que caracterizam o sistema construtivo das casas de madeira. Uma edificação poderia ser construída em pouco tempo devido ao uso reduzido número de peças que compõem os seus elementos construtivos e pelo sistema de encaixes, o que tornava o processo de montagem rápido. Ainda, a arquitetura japonesa também possui elementos característicos de sua cultura como os detalhes construtivos e elementos de fachada, como os rendilhados de madeira, a ranma, o frontão, irimoya, a varanda cerimonial, a guenkan, e ornamentos, onigawara. Foi desta forma que buscaram recriar nesta terra a cultura japonesa, com os materiais e elementos existentes na região, mas ainda assim, utilizando suas técnicas. Além de edificações residenciais em madeira, outras construções de uso comum também tinham destaque por seus ornamentos e organização espacial, sendo geralmente construídas em regime de mutirão. Buscava-se uma área comum e próxima aos sítios para implantar a escola, e outras atividades da comunidade como o clube esportivo, salão de festas e uma casa para o professor da escola, construída pelos pais dos alunos, formando um complexo denominado Kaikan. Assim como em toda a região do Norte do Estado do Paraná, um destes exemplares da arquitetura japonesa pode ser encontrado na área rural do município de Sertaneja, a 80 quilômetros de Londrina.  rata-se de uma antiga construção em madeira dos anos de 1950, utilizada como residência até 1991.  Embora   Esteja sem uso e parcialmente danificada, a edificação ainda guarda em suas estruturas a técnica construtiva do carpinteiro Kenzo Fuji. Nela podemos encontrar todo este sistema construtivo herdado dos japoneses e as particularidades claras de sua arquitetura, como sua fachada, onde possui as principais características da volumetria. A exemplo disso temos a cobertura irimoya (com o frontão, composto com peças de madeira treliçada), presença de ranma, que é o rendilhado emoldurando a varanda e que também acontece na  sala de estar. Este ambiente possui um simbolismo em conjunto com a varanda cerimonial (guenkan). A  sala  é marcada quase sempre por ornamentos em madeira sobrepostos sobre as paredes e forro, marcando-a como o ambiente mais importante da casa, e o guenkan (varanda) é marcado de um simbolismo que o dignifica como hall de entrada da casa privativo às visitas. Esta varanda é sempre elevada do solo e tem presença marcante na volumetria. O seu tratamento começa pela composição da escada de acesso e vai até os tratamentos ornamentais com rendilhado. No caso desta casa em estudo, observa-se que houve  alterações na composição deste ambiente. O parapeito da varanda, que antes compunha-se de madeira, foi substituído por alvenaria. Retomando a identificação das características presentes na casa, ainda pode-se encontrar o onigawara, que é um elemento de cimento, localizado no alto do frontão ou espigão da residência. Apesar de seu estado atual e das modificações feitas enquanto era habitada, a residência não perdeu seus traços característicos. É através de modelos como este, exemplar da história de um povo, de uma região, que se percebe o valor dos patrimônios históricos e a importância em preservá-los. Não é preciso ter pertencido a um grande artista para se estimar uma obra, uma construção. Simplesmente é necessário guardar uma crença, uma tradição, um valor sentimental ou histórico. Entretanto, o mais importante, é mostrar e conscientizar a todos o quanto aquilo é importante para a sociedade em geral e para as gerações futuras, pois assim possibilita que todos possam aprender e conhecer sobre o que se passou antes de nós.

REFERÊNCIAS
ZANI, Antônio Carlos. Repertório arquitetônico das casas de madeira de Londrina. Londrina: Midiograf, 2005. ZANI, Antônio Carlos. Arquitetura em madeira. Londrina: UEL, 2003. LEMOS, Carlos A. C. O que é patrimônio histórico. 5ªed. São Paulo: Brasiliense,

EM ROLÂNDIA: Eles se fixaram nas Glebas Cafezal e Bandeirantes a partir de 1934...  eram mais de 100 famílias.. seus descendentes continuam entre nós... trabalharam muito... pessoas honestas... de fibra...  ajudaram muito a desbravar este lugar abençoado. JOSÉ CARLOS FARINA

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