quarta-feira, 24 de julho de 2013

LONDRINA - PRIMEIROS ANOS DA CIDADE ( VIDA MUITO DURA )

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Quando não era a lama, era o pó...

A famosa terra vermelha que atraiu os primeiros agricultores para o Norte do Paraná é uma das mais férteis do mundo. Entretanto, essa mesma terra vermelha criou alguns dos piores tormentos para os colonizadores.
A terra vermelha, também chamada de "terra roxa" graças aos imigrantes italianos que trabalhavam na lavoura de café, que a denominavam como "terra rossa", é resultado da decomposição de lavas vulcânicas, particularmente do basalto.  Essas lavas se originaram do Derrame de Trapp, talvez o maior derrame de lava conhecido pelo homem, e que ocorreu na Era Mesozóica,  entre 251 e 66 milhões de anos atrás, a era dos dinossauros.
Para os colonizadores, a fertilidade da terra teve um preço: quando Londrina não tinha lama, tinha pó. A terra vermelha seca gera um pó finíssimo, altamente penetrante e que pode ficar suspenso no ar por horas. Por outro lado, quando molhada, gera uma lama altamente aderente e escorregadia.
Devido à presença da mata fechada, a cidade de Londrina tinha um clima muito mais úmido que o atual, e as chuvas eram muito mais frequentes do que hoje. As chuvas transformavam qualquer estrada ou rua em inacreditáveis atoleiros, e mesmo trechos curtos de viagem, como, por exemplo, entre Londrina e Jataí (foto abaixo), podiam levar horas, talvez mesmo um dia inteiro de viagem.
 
Por outro lado, nos curtos períodos de seca, era o pó que infernizava a vida da população, tanto rural quanto urbana. Londrina só começou a ter ruas pavimentadas no final de 1942 (na foto abaixo, a Avenida São Paulo sendo pavimentada) e, mesmo assim, somente as ruas do centro tinham tal pavimentação. 
 
Todas as áreas ao redor do centro continuaram a sofrer com a lama e o pó até a década de 60, quando o Prefeito José Hosken de Novaes providenciou o asfaltamento da maior parte da malha urbana então existente.
Naqueles tempos do pó e da lama, um acessório indispensável era o raspador de barro, instalado na entrada de todas as casas, prédios públicos e lojas. Os ferreiros fabricavam e vendiam modelos em ferro fundido, alguns bem elaborados, com apoio para as mãos, mas muitas vezes tal acessório era improvisado com pedaços de lata e madeira.
O raspador de barro foi apelidado no Norte do Paraná como "chora-paulista". Os paulistas que emigraram para a região, vindos das decadentes fazendas de café paulistas, instaladas em terreno branco e arenoso, sofreram muito com a terra vermelha que aderia aos calçados, criando uma crosta espessa e pesada que quase os impedia de andar, e isso deu nome ao acessório.
Na época do pó, as maiores sofredoras eram as donas de casa. Qualquer trabalho de limpeza das casas e da roupa era arruinado pela poeira muito fina e altamente penetrante, dando a tudo, inclusive às pessoas, uma característica cor avermelhada.

A poeira permanecia no ar por tanto tempo que servia de referência para os pilotos de avião que vinham para a cidade. A poeira levantada pelas hélices no antigo campo de aviação (na foto abaixo, de José Juliani, a "Aviação Velha") sinalizava o aeroporto para os pilotos a uma distancia de quase 50 Km.
As cidades, em geral, tinham sempre um aspecto avermelhado e sujo para quem vinha de fora, como se pode ver na foto abaixo, com as ruas vermelhas em pleno centro da cidade, na década de 60.
A Prefeitura de Londrina, assim como as prefeituras de todas as cidades da região, operavam um tipo de veículo indispensável, o caminhão "aguador". Eram caminhões-pipa, como o da foto abaixo, equipados com pulverizadores, que lançavam água sobre as ruas para tentar "apagar" a poeira.
Nos dias de chuva, era comum os homens se reunirem nos bares que ficavam logo acima da estação ferroviária, para assistirem e zombarem dos tombos que os recém-chegados levavam na lama, ao subir a íngreme ladeira que separava a estação do espigão no centro da cidade.
A pavimentação em asfalto acabou livrando Londrina do aspecto avermelhado, aos poucos, mas até hoje os moradores da região se autodenominam, orgulhosamente, de "Pés Vermelhos", em homenagem à essa terra que fez a riqueza do Norte do Paraná.

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